"Transe", por Fernando Ticoulat

"Transe", por Fernando Ticoulat

Abaixo, confira destaques do texto curatorial, assinado por Fernando Ticoulat para a mostra Transe, realizada em parceria entre Gomide&Co e Act Arte.

A exposição abre neste sábado, dia 30 de agosto, não deixe de visitar!


I. Transe sabe que tudo é energia, e que toda energia vem do calor; que a energia vibra em espirais; carregada de informação, não é muda. Ao se mover, ela deixa rastros, organiza padrões, codifica-se. O que brilha na tela, o que pulsa na máquina, o que vibra no som, tudo traz em si um eco de calor, seja das estrelas ou do núcleo da terra. Energia não é apenas o combustível, ela é o próprio tecido vital que conecta todas as coisas. Ela não pode ser criada nem destruída, ela é eterna, imutável em sua quantidade, mutável em suas formas. [...]

II. A irradiação do sol aquece, ativa, desperta; ela evapora a água, movimenta os ventos, alimenta as plantas e se converte em matéria viva, que é comida, decomposta e reciclada. O corpo dessa energia cósmica é o carbono. [...] Como batimento cardíaco, o outro termo desse campo é o núcleo da terra, um forno que dobra a crosta, derrete minerais e empurra continentes, preparando o terreno para que o sol atue. [...]

III. O Campo é um ambiente relacional, âmbito de potências onde elementos interagem e se influenciam. O Campo é invisível, mas estruturante. Zona em constante movimento, sempre em tensão, onde matéria e significado coemergem. É pela sua dinâmica que se cria realidades. Todo campo é um sistema de energia direcionada por informação, esta é sua substância. Não existe informação sem contexto, sem campo, sem corpo. A informação não está nas coisas, no dado bruto, mas no relacionamento entre os elementos do campo. [...]

 

 

 

 

 

 

 

 


Camile Sproesser
O DiaA Noite, 2025

IV. Uma exposição é Campo, conjunto vivo, ativo e afetivo, simbólico e espacial, que condiciona a criação e a percepção[...] Uma obra em uma exposição passa a existir relativamente a esse campo, ela se imanta. Máquinas de diferenciação, geradora de surpresas, itinerários de desejos. Um id que não se limita a ocupar um lugar no espaço objetivo – mas o transcende ao fundar nele uma significação nova.

Pois a arte, como um objeto tecno-estético imanente, não se coloca fora do mundo, mas o reconfigura a partir de suas entranhas: energia, matéria, linguagem. A arte não é reflexo do mundo, definida por uma identidade fixa, como representação estática, mas um diálogo sublime entre o eu e o outro, um não sei o quê espiritual. [...]

Rubens Gerchman
Magic Geometry, 1972

V. Transe é uma experiência, o próprio flagra da alquimia entre energia e informação, como quando o sopro se faz palavra, o trauma vira narrativa, a atitude vira arte. [...] Depois disso, o mundo já não é o mesmo.

Aug 15, 20250 comentáriosPaula Nunes
Sep 01, 20250 comentáriosYasmin Abdalla