Projeto Lorenzato: a preservação de um legado

Projeto Lorenzato: a preservação de um legado

Amadeo Luciano Lorenzato
Pintor autodidata e
Franco atirador

Não tem escola
Não segue tendências
Não pertence a igrejinhas
Pinta conforme lhe dá na telha
Amém


Foi assim, em tom de oração e no verso de uma pintura de 1948, que o pintor Amadeo Luciano Lorenzato (1900-1995) se definiu para toda a vida.

Nascido em Belo Horizonte de pais imigrantes italianos, Lorenzato viveu em Minas Gerais até os 19 anos, quando se mudou para a Itália. Lá, trabalhou como pintor de paredes, ofício que continuou exercendo quando retornou ao Brasil em 1948. Até 1956, foi a este trabalho que Lorenzato se dedicou primariamente, ano em que se aposentou após um acidente. A partir de então, com quase 60 anos, passou a dedicar-se exclusivamente às telas.


Sem título, 1974
Óleo sobre placa
Assinada e datada (Lorenzato 974), canto inferior direito
Coleção particular
49 x 39 cm
LOR-0082


As obras produzidas ao longo de quase 40 anos de fidelidade aos cavaletes evocam as raízes do artista na classe trabalhadora. Marcados por uma visualidade que transborda dicotomias, seus trabalhos incorporam fontes populares, paisagens mineiras e seu cotidiano sensível, revisitando uma diversidade de paisagens imaginárias.Rurais, urbanas ou marítimas, figurativas ou abstratas, elas emergem de uma realidade vivida, mas também despertam uma memória afetiva e nostálgica, incorporando inclusive referências a artistas eruditos italianos, como Masaccio, ou impressionistas, como Matisse. 

Seu ofício como pintor-decorador inspirou a criação de uma técnica pictórica original, que se valia de instrumentos adaptados da decoração de paredes. Com o auxílio de um pente, ele raspava a tinta sobre a superfície repetidas vezes, criando fusão de cores e texturas e promovendo uma sensação de movimento – um grande marcador de sua pesquisa pictórica. Essa textura particular sinaliza uma sofisticação que o distancia da ideia do pintor “primitivo”, ideia reforçada por Rodrigo Moura, autor de sua monografia, ao defender que Lorenzato deve ser reconhecido como parte da modernidade tardia brasileira, trabalhando, isolado em Belo Horizonte, paralelamente a artistas não acadêmicos como Djanira, Heitor dos Prazeres, e tantos outros.


Lorenzato na Biennale di Venezia, 2024. Cortesia Gomide&Co.

Com uma produção estimada de quase 4 mil obras, hoje suas telas circulam por coleções e exposições no mundo todo, integrando o acervo de diferentes museus e coleções públicas, como da Fundação Clóvis Salgado e do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, além da Universidade Federal de Viçosa, da Pinacoteca de São Paulo e do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand).


O Projeto Lorenzato

Desde 2024, a Act Arte coordena o Projeto Amadeo Luciano Lorenzato, uma importante iniciativa dedicada a valorizar, preservar e difundir o legado desse mestre da arte brasileira.

Fundado em 2023 com apoio do Itaú Cultural, o Projeto visa identificar e catalogar o corpo de trabalho do artista de maneira contínua e aberta ao público a fim de consolidar e expandir o conhecimento sobre sua obra. Para que isso seja possível, contamos com a colaboração de colecionadores, galerias e instituições que inscrevem obras do artista em nossa plataforma. Os trabalhos são criteriosamente analisados pelo Conselho Consultivo, formado por profissionais e pesquisadores com amplo conhecimento sobre a produção de Lorenzato, e responsáveis pela inclusão de suas obras no catálogo digital.

Caso tenha obras do artista em sua coleção, inscreva-as no Projeto pelo formulário no site ou pelo e-mail projeto@amadeolucianolorenzato.com.

Conheça o Projeto Lorenzato através do Instagram: @projetolorenzato