
No final do anos 2000, a galeria Luisa Strina passou a convidar diferentes curadores para assinar a organização de exposições a cada dois anos – a maioria delas programada para coincidir com diferentes edições da Bienal de São Paulo. Strina deu carta branca aos curadores convidados para tomarem conta do espaço e organizarem exposições temáticas não circunscritas aos seus artistas, transformando a galeria em vitrine de práticas curatoriais e artísticas experimentais. Confira algumas delas a seguir!
25.10.2008 – 22.01.2009: “Isso não é um vazio”
Coletiva com curadoria de Jens Hoffmann
O curador Jens Hoffmann deu o tom para essas propostas experimentais com sua exposição de 2008, This Is Not a Void [Isso não é um Vazio], que exibia uma galeria aparentemente vazia, repleta de obras efêmeras, imateriais ou quase imperceptíveis.
Concomitante à polêmica 28ª edição da Bienal de São Paulo que, diante das dificuldades financeiras da instituição, optou pelo vazio, This is not a void [Isso não é um vazio] também buscava a desmaterialização radical do objeto de arte. A proposta, no entanto, ia além de uma crítica às instituições ou ao mercado, como feito pela Bienal. Hoffmann dedicou-se a estabelecer uma ligação perdida entre o público e a obra: “A arte pode existir em um espaço vazio e pode criar uma experiência de arte que vai além da ditadura do objeto”.
O espetáculo “vazio”, no entanto, reuniu mais de 30 obras/gestos de artistas internacionais, como Work No 227: The lights Going On and Off [Obra No 227: as luzes acendendo e apagando] (2000), de Martin Creed, na qual a galeria foi mergulhada em escuridão intermitente, ou a ação de Elmgreen e Dragset, que pintaram de branco a fachada preta da galeria, deram a base para a exibição.
20.09 – 17.12.2010: “Primeira e Última, Notas sobre o Monumento”
Coletiva com curadoria de Rodrigo Moura

A extensa exposição do curador Rodrigo Moura ocupou dois edifícios: o endereço original da galeria Luisa Strina, na esquina das ruas Padre João Manuel e Oscar Freire, e sua localização atual, a um quarteirão de distância, marcando uma transição na própria história da galeria. Assim, explorando seu interesse pelas histórias entre cultura e monumento, Moura entrelaçou ali uma “homenagem ao passado da galeria”, que ao mesmo tempo “apontava para o seu futuro”, um “movimento temporal que é característico da construção do monumento”.
Com cerca de 25 artistas, a exposição exibiu obras site-specific comissionadas que propunham discussões críticas sobre monumentos, como foi o caso da intervenção de Tonico Lemos Auad, que transformou o terraço do espaço de um campo relvado, e da escultura em forma de corrimão de Gabriel Sierra desafiou a monumentalidade e adquiriu função como uma espécie de dispositivo expositivo, guiando o público pelos espaços da nova galeria.
Segundo Pablo León de la Barra “a hipótese desta exposição é que o monumento seja uma tentativa de impedir a passagem do tempo e o esquecimento [...]. Mas esse mesmo desejo aponta para a possibilidade de um fim iminente, seja como transformação ou como ruína. Para todo começo, há um fim”.
01.09 – 03.11.2012: “Parque Industrial”
Coletiva com curadoria de Julieta González

Influenciada pelas duas primeiras exposições, Julieta González buscou abordar temas de contexto histórico, como a história de São Paulo enquanto questionava o objeto artístico. Referenciando o uso estrutural do objeto por Georges Perec em seu romance Les choses, une histoire des années soixante [As coisas, uma história dos anos 1960] Gonzalez pegou emprestadas estratégicas brechtianas de palco, “como a desfamiliarização, a repetição, o uso de avisos e o recurso ao estranho”, para estruturar, finalmente, a exposição intitulada Parque Industrial, romance proletário.
Construída como um “teatro de objetos” e dividida em 5 atos, a exposição foi, em suma, sobre as relações de produção que estão embutidas no objeto, seja ele uma obra de arte ou uma commodity, sem deixar de lado a discussão acerca das explorações de subjetividades através da lógica fabril de trabalho artístico.
31.08 – 05.11.2016: “Homo Ludens”
Coletiva com curadoria de Ricardo Sardenberg
Outras exposições distanciaram-se do funcionamento interno da galeria para produzir diálogos poéticos e lúdicos entre obras, o que, no entanto, também subverteu o efeito anestésico da dinâmica do mercado. Nesse contexto, está Homo Ludens, organizada por Ricardo Sardenberg.
A mostra fez referência ao livro Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture [Um estudo do elemento lúdico na cultura] (1944), de Johan Huizinga em que o historiador holandes sugere que a brincadeira é o principal modo por meio do qual a cultura é gerada e uma construção social compartilhada é criada.
Sardenberg afirmou que se tratava de uma exposição sem conceito, sem arcabouço teórico, para ser vivida e contemplada e não analisada ou pensada. O público se tornaria um “espectador do jogo sendo jogado pelas obras”, que foram agrupadas por suas afinidades lúdicas, situações inesperadas e imagens que poderiam surgir a partir da experiência dos trabalhos. A ideia era “brincar”.
21.08 – 27.10.2018: “Você sonha com o que? A flor Mohole e outras fábulas”
Coletiva com curadoria de Magali Arriola
Na mesma linha, mas dessa vez investigando os mecanismos complexos e às vezes obscuros por meio dos quais a imaginação artística funciona, Você sonha com o que? A flor Mohole e outras fábulas, de Magali Arriola, se destacou como exposição muito poética e centrada nos artistas, oferecendo aos visitantes um vislumbre das obsessões que os levam a ir além do mundo racional e entrar no universo dos sonhos.
Em um artigo sobre a exposição para a Frieze, Andrew Durbin concordou que “como um antigo gabinete de curiosidades, a exposição de Arriola está repleta de esforços pseudocientíficos que tentam explicar aspectos fundamentais da vida, desde os restos empoeirados de criaturas incrustadas em nosso passado geológico até o funcionamento interno contínuo do planeta. Mas sua ‘pesquisa’ apenas descobre o inexplicável, o desconcertante”.
Você acaba de ler destaques do ensaio de Julieta González para o livro Luisa Strina 50. No texto, a curadora se dedica a comentar sobre exposições que ocorreram na galeria nos anos entre 2010 e 2019.
Leia na íntegra garantindo sua cópia da publicação!